Algumas pessoas têm dúvidas sobre se o suicìdio é pecado ou não. O Cônego José Luiz Villac em resposta a uma pessoa nos explica sobre o assunto.
Pergunta
Pergunta
Em minha família tivemos um ente querido que cometeu suicídio, era
irmão de minha esposa, e no seu velório o Padre se recusou a rezar por sua alma.
Eu e minha família ficamos extremamente chocados. Gostaria de saber se o senhor
poderia me explicar a atitude do Padre. Se foi uma atitude isolada ou se é
sempre assim. Podemos mandar rezar Missas em intenção da alma de meu
cunhado?
Resposta
Nada justifica o suicídio porque, por mais árduas que sejam as
condições de existência de uma pessoa, o homem foi feito para enfrentar durante
a vida situações adversas, às vezes duríssimas. E Deus nunca recusa ao homem os
auxílios de que precisa para cumprir seus deveres familiares, profissionais e
sociais e para superar todas as provações. Auxílios esses que alcançamos de Deus
muito especialmente através da oração: “Em verdade, em verdade vos digo: se
pedirdes alguma coisa a meu Pai em meu nome, Ele vo-la dará”, disse Nosso
Senhor Jesus Cristo (Jo 16, 23). “Tudo que pedirdes, com fé, na oração, o
recebereis” (Mt 21, 22). O desespero do suicida é uma negação pecaminosa da
misericordiosa paternidade de Deus e da promessa infalível de Jesus Cristo.
O suicídio é um pecado escandaloso, que atenta contra os direitos
de Deus, supremo e único Senhor da vida e da morte. É um pecado que agride
brutalmente o convívio familiar e social, privando os familiares e os amigos da
presença de um ente querido, e muitas vezes de um sustentáculo material, afetivo
e espiritual. É um pecado gravíssimo que precipita a alma diretamente no
inferno.
Por esta razão, as leis da Santa Igreja (cânones 1184/5) vedam
conceder exéquias eclesiásticas aos “pecadores manifestos” — como é o
caso dos suicidas — “a não ser que antes da morte tivessem dado algum sinal
de arrependimento”.
O ítem 3º do cânon 1184 introduz a precisão de que a privação das
exéquias elcesiásticas deve ser aplicada aos “pecadores manifestos, aos quais
não se possam conceder exéquias eclesiásticas sem escândalo público dos fiéis”
O sacerdote, ao recusar-se a rezar pela alma da pessoa que
cometeu o suicídio, presumivelmente examinou a situação concreta para, conforme
diz o ítem acima referido, evitar o “escândalo público dos fiéis”.
Compreende-se, pois, a atitude assumida por ele.
Convém ainda acrescentar que não basta a mera suposição de que
talvez, nos últimos instantes (entre o ato suicida e a morte efetiva), pela
infinita misericórdia de Deus, ter-se-á arrependido de seu ato tresloucado e
obtido o perdão. É preciso que haja algum testemunho fidedigno de que o suicida,
antes de expirar, tenha por exemplo beijado devotamente um crucifixo ou alguma
imagem ou objeto piedoso, tenha batido no peito dando mostras de arrependimento
de seu pecado, tenha pedido que lhe levassem um sacerdote, ainda que este não
tivesse chegado a tempo etc. Sem estes sinais, o sacerdote não pode dar-lhe
“sepultura eclesiástica”, ou seja, rezar publicamente pelo defunto,
encomendar-lhe a alma, benzer sua sepultura etc., nem celebrar as Missas de
exéquias.
De qualquer modo, como resta a possibilidade de Deus ter
concedido in extremis ao suicida a graça do perfeito arrependimento, sem
que ele o tenha podido manifestar publicamente, é permitido rezar privadamente
pelo defunto, e mesmo encomendar Missas em sua intenção, desde que estas sejam
celebradas privadamente e assistidas só pelos familiares e amigos mais íntimos,
sem comunicar ao ato nenhum caráter social (como anúncios em jornal, por
exemplo).
Infelizmente, essas sábias e razoáveis disposições eclesiásticas,
que antigamente eram bem conhecidas dos fiéis, hoje não mais o são, o que
explica que o consulente e sua família tenham ficado extremamente chocados com a
atitude do sacerdote. Em vista disso, teria sido conveniente, talvez, que ele
desse uma explicação à família.
A triste realidade de nossos dias é que vivemos numa sociedade
que se distanciou de Deus.Noções como a da extrema seriedade da vida, na qual
devemos, pela honestidade de nossos atos, ganhar o Céu, e portanto evitar
qualquer transgressão dos Mandamentos da Lei de Deus e da Igreja, não fazem mais
parte das cogitações habituais de um número enorme de nossos contemporâneos.
Restam apenas alguns fiapos de tradições cristãs, como a de rezar pelos defuntos
no velório, chamar um Padre para que encomende a sua alma etc.
E ainda é forçoso reconhecer que mesmo esses fiapos estão
desaparecendo. Contudo, a reação do consulente e de sua família, de ficarem
chocados com a recusa do sacerdote de rezar publicamente pelo suicida,
compreende-se em função do desejo de obter para ele a salvação. Que eles rezem,
pois, pelo seu ente querido, pois Deus, em sua infinita misericórdia, na
previsão dessas orações, pode ter dado ao defunto a graça do arrependimento
in extremis. Até lá pode chegar a misericórdia divina!
Fonte : http://www.catolicismo.com.br
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